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Desafio aos Puristas Banto

Atualizado: 25 de set.



Ensaio para Coluna Falando de Quimbanda Nàgô da Revista Nganga No. 10.



Observamos hoje uma grande disputa territorial entre os praticantes de feitiçaria tradicional brasileira, a Quimbanda; muitos religiosos ou pseudos-religiosos todo o tempo querem buscar um purismo que é inexistente na Quimbanda como um culto genuinamente brasileiro. Falou em culto brasileiro, a última coisa que se pensa é na pureza, ou seja, na ausência de misturas culturais, sociais e religiosas. A beleza do brasileiro é a miscigenação tão complexa que nos resulta.


Alguns discursos equivocados têm sido constantes entre os sacerdotes de outras vertentes e os que se dizem estudiosos e/ou acadêmicos nos estudos de macumba, em que por temor da retomada da popularidade da vertente Quimbanda Nàgô em âmbito religioso nacional. A primeira premissa extremamente equivocada e que machuca os ouvidos dos que ouvem ou os olhos daqueles que leem de que não seria possível uma Quimbanda Nàgô, pois segundo os mesmos não existe influência alguma yorùbá à nível de Quimbanda. Quanta burrice escancarada num conjunto de palavras por aqueles que temem à queda de seus castelos de areia. Vamos lá, quer pureza, uma Quimbanda extremamente banto? Retire de seus cultos os termos yorùbá para começar: onde estiver o termo Exu, coloque Mavambu, Aluvaiá, o que for o nome do nkisi dos caminhos, afinal, Exu vem do yorùbá Èsù, o òrìsà dos caminhos e da vitalidade. Continuando, retire os okutás, e coloquem seus ritari ou matari, abram mão das ervas que se usam no culto de Exu e utilizem ervas nativas do Congo e Angola. Desfaça-se os assentamentos de formatação nàgó e voltem aos vultos de barro em suas kuxikamas, que não deverá ser regada com mais epó pupá (azeite de dendê), óleo típico das culturas yorùbá e fon.


Quanto aos nomes, até os nomes de entidades, como Tiriri, Lonã, Marabô e Lalu, deverão não mais ser cultuados, pois são todos epítetos do òrìsà Èsú, que ganharam forma e continuidade dentro do culto de Quimbanda; ou seja, são nomes nàgô, de origem yorùbá.


Façamos esse desafio, retirem tudo o que tem de influência nàgôyorùbá de seus cultos 100% banto e vejamos se ele continua existindo como Quimbanda. Afinal, se buscar a pureza banto ao pé da letra, Kimbanda não seria culto, mas um individuo, o curador, o sacerdote, o mestre professor, o feiticeiro.


Nosso nome, Quimbanda Nàgô, é muito antigo no campo da literatura; muito antes de nascerem esses que hoje se levantam em busca de um purismo banto. Vide Lourenço Braga na década de 1940 e Aluísio Fontenelle na década de 1950. Assim como outras bandas do tronco tradicional, que certamente existiam já anos antes desses autores tentarem descrevê-las em seus materiais.


Seguindo esse desafio de purismo banto, aconselhamos ainda que abstraia de tudo o que seja de origem europeia na sua banda, tais como os tridentes nos pontos riscados ou nas insígnias dos espíritos, o uso das gemas e pedras semipreciosas, que o uso de velas seja abolido e voltem-se as lamparinas. Que os conjuros e conotações diabólicas sejam esquecidas por estes, juntamente com as saias rodadas inspiradas nos cortes francesas usadas nas Pombagiras e as capas de veludo e cartolas dos Exus, típicos de um lorde inglês. Esqueçam também do Diabo como o veem e todas as suas hostes de demônios como Belzebuth e Lúcifer. Isso tudo não é originário de Angola e nem do Congo. Pare de ir à Cemitérios realizar rituais e volte-se às matas e praias apenas, pois necrópoles como conhecemos foi uma construção européia. Parem de utilizar os charutos, cigarros, cachimbos e toda forma de tabaco oriunda do povo indígena brasileiro, assim como as maracas e rituais de sacudimentos brasileiros que se diferenciam muito dos africanos, que são acostumados à rezar o animal que será imolado junto das oferendas, sendo muito pouco passado no corpo. Esqueçam o Diabo, e se voltem para Ndala Karitanga com toda força.


Se desejam purismo, devem fazer isso tudo. Pois se a Quimbanda Nàgô não pode ser, como propalam a não existência de nada yorùbá na mesma, jogue fora o nome Exu de todas suas práticas: esse nome é yorùbá.


A beleza de Quimbanda está na multiplicidade de manifestações e vertentes, cada uma com sua puxada familiar para um de seus três pilares, mas sempre será um culto oriundo de miscigenação de africanos, indígenas e europeus, afinal, ser brasileiro é ser filho dessa miscigenação.


Salve todas as bandas de Quimbanda em solo nacional, cultos brasileiros de raiz, complexo de legiões do Chefe Império Maioral.


Salve a Quimbanda Nàgô,

O Exército de Exu Gererê!


Táta Nganga Kilumbu

Domínio do Exu Marabô e Pombagira Maria Padilha


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