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A Coroa dos Maiorais



A Quimbanda é uma tradição iniciática. Ela possui arcanos e mistérios transmitidos secretamente, de lábios a ouvidos na relação de um táta-nganga com seu discípulo. É uma tradição discipular, portanto, transmitida do mestre ao estudante que um dia tornar-se-a um mestre e transmissor da tradição a novos aprendizes. A relação entre o mestre e o aprendiz, aquela que ele aprenderá com o mestre e praticará na sua vida diária, é baseada nos princípios que nossa família de Quimbanda Nàgô chama de Coroa dos Maiorais: Sabedoria (Lúcifer), Honra (Ashtaroth) e Soberania (Beelzebuth).


A Coroa dos Maiorais trata-se de um ternário sagrado formulador de caráter, capaz de transformar o comportamento torpe de uma mente viciada em um construto psíquico apto a tornar-se um mestre da vida. Sabedoria, Honra e Soberania são as Virtudes dos Maiorais que o kimbanda invoca para que sua alma seja coroada pela majestade do Chefe Império Maioral, o Diabo. Essas Virtudes são Valores norteadores de nossa família, nossa ética e moral. Receber a Coroa dos Maiorais, por outro lado, não é uma tarefa fácil.


É requerido iniciação! Por esse termo nós definimos a jornada mágico-espiritual do kimbanda, seu tempo e percurso construído até que a sua alma seja coroada pelo Chefe Império Maioral. No curso de sua jornada o kimbanda precisa vencer árduas batalhas internas na intenção de equilibrar as forças dos Reinos da Quimbanda internamente, para que gravitem harmoniosamente ao redor de seu eixo luciférico de individuação.


A Quimbanda como compreendemos em nossa família de Quimbanda Nàgô, é um profundo caminho de iniciação, de mortes (transformação) e renascimentos (superação) constantes na busca por uma maestria total na vida. É uma jornada de descoberta e cura, de imersão nas sombras e dissolução na luz. Não é um caminho, portanto, para crianças tolas que brincam com velhas doçuras, porque o buraco da Quimbanda é muito fundo, mais do que as mentes fantasiosas são capazes de perceber.


Ele é sempre um sol e ela é sempre a lua. A Quimbanda opera através das forças solares (masculinas) e lunares (femininas) que gravitam ao redor de um eixo luciférico de individuação. O Caduceu de Mercúrio no ventre da imagem do Chefe Império Maioral simboliza essa operação, que pode ser encontrada em distintos sistemas de iniciação.[1] O equilíbrio interior dessas forças fornece a estrutura interna que possibilita uma mudança no caráter e expressões da personalidade.[2] As práticas psiúrgicas e mágicas da Quimbanda, quer dizer, o trabalho de visualização, concentração e respiração com os símbolos mágicos da tradição, os rezos e invocações, os feitiços e técnicas de armadilhas de espírito, etc. têm um impacto profundo no gerenciamento das faculdades da mente e nos níveis de energia (àṣẹ), construindo um caminho de maestria na vida.


Todos que adentram a nossa família devem, portanto, almejar a Coroa dos Maiorais para tornarem-se Mestres da Vida.


A Banda está de ronda. Nada fica oculto!

Salve a Quimbanda Nàgô.

Salve a Tradição e a Transmissão do Povo de Ganga.

Salve o Exu Rei de Ganga, o Exu Gererê.


Táta Kimbanda Fernando Liguori

Cova de Cipriano Feiticeiro

Templo de Quimbanda Maioral Exu Pantera Negra e Pombagira Dama da Noite



NOTAS: [1] A título que comparação apenas: para àqueles afinizados com o tantrismo, podemos convocar a ideia do equilíbrio nas trêss nāḍī fundamentais ao despertar e a projeção da kuṇḍalinī: īḍā, pingāla e suṣumṇā-nāḍī. [2] A título que comparação apenas: do mesmo modo que a personalidade se refina na medida em que a kuṇḍalinī desperta e purifica as pétalas dos cakra em sua jornada até o sahasrāra-cakra.

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